Sunday, September 22, 2013

domingo cinza



O dia era preguiçoso, como os últimos domingos haviam sido. Acordei com o cheiro de salmão ao molho de maracujá que minha mãe havia feito, meu preferido. Comi assistindo o último episódio de uma série famosa, aquele que havia saído no dia anterior, gelei na hora que o protagonista quase levou um tiro.

Era um daqueles típicos domingos, cinza, dava pra escutar os pingos da chuva caírem na varanda.

Se ao menos tivesse alguém para compartilhar, pensei. Fazia um pouco de frio, o suficiente para puxar uma mantinha e se enrolar no sofá. Desembrulhei o último bombom da caixa, na tentativa de uma felicidade momentânea, mas não durou muito. O som de jack johnson no fundo deixava a vida um pouco menos triste. Observei a lista de bate papo, "droga, ele está online" falei baixinho. O que que eu falei sobre não estar triste? Esqueça.

De jack johnson fui para adele e logo as piores memórias vieram a mente. Memórias que eu havia enterrado, e pretendia nunca mais desenterrar. Mas quem disse que nossa mente colabora? Tentei ao máximo ignorar, mas não havia jeito. Tudo voltou, sempre volta. Fico tentando distinguir o que dói mais, pensar que poderíamos ter tido algo ou aquela última conversa.

Droga.

Assisti um filme esses dias onde a garota apagou sua memória para esquecer seu ex, imagine isso. Apagar suas lembranças, nossas lembranças. Tentei assistir vídeos na internet para me distrair, mas nada tirava o passado da minha mente. Não havia mais jeito, mais opção, mais alternativa, mais volta. Eu já tinha tomado minha decisão e não podia voltar atrás. Só queria que tudo fosse um pouco mais simples, mais rápido. O tempo não estava com pressa para me ajudar desta vez.

Respirei fundo. Um vento gelado passou pelo meu braço, senti um leve arrepio. Mas quase nem percebi, já havia me afundado demais nas lembranças, em tudo, "não tem volta" afirmei para mim mesma, numa tentativa de enganar meu cérebro a pensar em outra coisa.

Fracasso. Você. Eu. Nós, fracasso.

 Aceitar isso nunca foi mais difícil, mas eu teria que me acostumar. Voltei a cavar naquela lama de memórias, cavei o mais fundo que minhas forças me permitiam, e então joguei você lá dentro, de novo. Joguei tudo, e cobri o mais rápido possível, "sem olhar pra trás" suspirei.

No comments:

Post a Comment